Impossível não ter medo da perda.
Brotamos do amor de duas pessoas que se uniram por um motivo
comum.
Iniciamos nossa caminhada no útero de nossa mãe e que nos
fora apresentada através do alimento. O elo que nos une é forte.
Abrimos os olhos para o mundo externo nove meses depois. O
que antes era somente a voz do papai que ouvíamos, virou algo material.
Compreendemos que, desde que deixamos o aconchego abdominal
de nossa mãe, o leque de atenção que recebemos é maior do que nosso
foco.Conhecemos o carinho da família, ou seja, dos irmãos, avós, tios, primos,
compadres e dos amigos. Partimos do calor que nos envolvia para uma temperatura
variada onde às vezes é quente demais ou frio petrificante.
Descobrimos através de nossas experiências que aprendemos com
eles e com o amor que eles nos dão. Esse amor que, em grande porcentagem, é tão
grande que nos é mostrado pelo cuidado que tiveram conosco, pela educação que
nos deram, pelo caráter que nos ensinaram a desenvolver e pela cultura
acadêmica que nos propuseram.
Crescemos, nos desenvolvemos e alguns se reproduziram
estando eles, nossos pais, acompanhando nossa caminhada de camarote. Alguns
deles, o camarote, é bem pertinho da nossa vida. Outros, bem afastados. O tempo
passou.
Esse tempo todo passou e, olhando para a nossa própria vida,
nós, os filhos, o fruto desse amor, não percebemos que o tempo passou para
eles, nossos pais, também. Não tivemos tempo ou percepção de que nossos pais
percorreram o caminho deles olhando para nós. A atenção deles estava voltada
para a nossa vida, e certo dia, o desgaste dos anos nos apresenta nossos pais,
heróis, destemidos e prontos para tudo no que diz respeito a nós, filhos, como
seres humanos frágeis.
É um susto. Um baque. Observamos que a pintura realmente
mudou durante esses anos e que, assim como nós, eles também mudaram.
Ao sinal da primeira dificuldade apresentada pelo
envelhecimento nos desesperamos e depois nos recompomos. Aparecem a segunda, a
terceira e por ai se vai e aprendemos que passamos de seres cuidados para
cuidadores. Isso não significa que eles não possuem forças, autonomia, vontade
própria e capacidades. Isso significa que o tempo começou a pesar sobre seus
ombros e o que era feito com rapidez agora é feito com calma, o cognitivo está
em perfeitas condições, porém mais lento e que os interesses mudaram.
Neste momento começa a aparecer o medo. Medo de que estejam
dirigindo e sofram acidentes nesse transito insano, medo dos tropeços em
tapetes e degraus, medo de serem atropelados mesmo na faixa de pedestres, medo,
medo, medo.
Na verdade, o maior medo é o de não ter mais tempo para
estar com eles. Medo de não dar tempo de recuperar o tempo perdido no momento
que estamos mais preocupados com nossa formação acadêmica, com nossa formação
financeira e nossa visão unilateral.
Sendo mais incisiva, o grande medo é o da perda, de nos
vermos sozinhos mesmo estando acompanhados por todos a nossa volta. Medo de não
termos mais nosso arrimo, nosso esteio. Medo de não termos mais quem nos
realmente suporta.
Medito a respeito disto agora, que compartilho com vocês, em
prol da esperança de podermos viver cada dia com nossos pais de modo a não
perdermos essa oportunidade.
Vivo isso a cada dia e percebo que ainda é pouco. Proponho
que observem a vida intensamente e aproveitem cada minuto que tiverem com seus
pais. Façam o possível e o impossível para tê-los a sua volta e você em volta
deles. Lembre-se que eles te colocaram neste mundo. Sem eles você não estaria
aqui.
Ame-os com amor ágape e philos e tenham compaixão com eles e
com você. O medo da perda acontecerá de qualquer maneira. O que fará a
diferença é o quanto você conseguiu ser feliz e faze-los felizes.
Cara amiga que lindo texto você escreveu! Cada dia você está se superando mais como escritora, com palavras tão belas, comoventes e verdadeiras!Eu particularmente, adoro os seus escritos!Continue nessa feliz caminhada.Força e muito sucesso minha cara amiga especial!
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